Dúvidas endometriose

Perdendo a intimidade: o impacto sexual da endometriose

Rodrigo Fernandeshttps://www.instagram.com/drrodrigofernandes/Médico Ginecologista
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A endometriose pode prejudicar o relacionamento sexual do casal e é capaz de interferir no desejo, no prazer, na autoestima e em algo que traduza todos estes sentimentos e sensações: a sexualidade feminina.

Sexualidade é sem dúvida uma das características mais vibrantes dos seres humanos. Através da intimidade com nossos parceiros(as) transbordamos algumas das nossas mais intensas emoções e prazeres. Neste contexto, a endometriose é literalmente uma doença “estraga prazer”.

No consultório, as histórias se repetem toda vez que uma paciente é questionada se sente dor na relação sexual. A resposta é sempre “sim”. A característica principal da dor é que ela dói no fundo, em algumas posições de penetração profunda do órgão masculino. Nem sempre a queixa é expressada de forma espontânea, cabendo ao médico inquirir ativamente a paciente sobre essas questões mais íntimas. Algumas tem mais, outras menos, algumas sentem um leve desconforto e tem mulheres que, à despeito da doença, não sentem nada simplesmente por seu limiar de dor ser mais alto.

Para nós médicos, a dor na relação sexual – chamada de dispareunia – é uma das maiores queixas das pacientes com endometriose, e está frequentemente associada a infertilidade, outro fantasma que ronda a vida sexual da mulher. Esse tormento começa interferir na psique feminina, levando um círculo vicioso de dor, medo, diminuição do prazer e da libido. Infelizmente muitos parceiros não compreendem a situação e somente buscam a satisfação pessoal, e muitas mulheres – para não desapontarem seus parceiros – se submetem inúmeras vezes a uma relação sexual desprazerosa, mecânica, artificial, por obrigação ou para emplacar uma gestação perseguida. A narrativa estende-se e, se nada for feito, a dor cria memória, os músculos da pelve contraem cronicamente e o relacionamento amoroso definha.

A boa notícia é que, embora as medicações hormonais e antiinflamatórios tenham pouco efeito sobre a dispareunia, a cirurgia se revela uma excelente opção terapêutica para a dor na relação sexual, ajudando as mulheres a retomar sua sexualidade e reconstruir sua vida conjugal.