A histerectomia é a remoção cirúrgica do útero. Então por que a retirada do útero seria a cura para a endometriose? Entenda.
Uma pergunta que muitas pessoas fazem é se a histerectomia (retirada do útero) trata a endometriose. Inclusive, por diversas vezes já chegou a ser tema na mídia pois atrizes e influencers relataram a retirada do útero em decorrência da endometriose.
Em 2018, Lena Dunhan, famosa atriz de Hollywood, veio a público e disse: “retirei o útero porque não aguentava mais viver com dores”.
Sendo assim, vamos esclarecer alguns pontos:
A endometriose é definida/caracterizada pela presença de endométrio ou tecido semelhante ao endométrio em localização extra-uterina. Ou seja: apesar do endométrio ser um tecido que normalmente reveste a cavidade uterina, a endometriose é definida pela presença dele em qualquer órgão do abdome ou tórax que não seja o útero.
Diante disto, eu lhes pergunto: por que a retirada do útero seria a cura para a endometriose, se a endometriose é uma doença fora do útero?
É muito comum que diversos médicos façam esta proposta às pacientes. Que o útero seria a origem da endometriose e que a sua retirada seria a solução para todos os problemas. Mas temos que esclarecer outros pontos aqui:
A origem da endometriose ainda é incerta. Esta idéia de retirar o útero se baseia na teoria da menstruação retrógrada. Em que, durante a menstruação, células endometriais cairiam na cavidade abdominal através do refluxo tubário. No entanto, a menstruação retrógrada ocorre em aproximadamente 85% de todas as mulheres em idade reprodutiva, enquanto a endometriose ocorre em 10-15% destas mulheres. Ou seja, esta teoria não explica por que as demais 70% das mulheres em idade reprodutiva não possuem endometriose.
Além disto, talvez uma confusão realizada seja entre adenomiose e endometriose. Como eu disse anteriormente, a endometriose é definida pela presença de endometriose em localização extra-uterina. Já a adenomiose é definida pela infiltração da parede uterina (miométrio) pelo endométrio. Nestes casos, de adenomiose, a histerectomia pode ser uma opção terapêutica se a mulher não tiver mais desejo reprodutivo.
Uma outra questão em que a retirada do útero não resolveria na endometriose é que os sintomas da endometriose são causados pelas próprias lesões e fibrose ao redor. Desta forma, para a melhora da qualidade de vida da paciente, seria necessária a retirada das lesões em si. Seja onde elas estiverem. Então, se tem endometriose no intestino, retira-se a região do intestino acometida. Isso também vale para ovário, bexiga, vagina e demais órgãos possivelmente acometidos.
Sendo assim, podemos concluir que:
– a retirada do útero ocorrerá somente quando existirem doenças uterinas;
– a retirada do útero jamais será um tratamento para a endometriose;
– a retirada do útero pode ser um tratamento para a adenomiose, desde que a mulher não tenha mais desejo reprodutivo;
– o tratamento cirúrgico da endometriose é a retirada das lesões de endometriose, seja em qual órgão ela estiver. E esta retirada será agressiva o suficiente para que a endometriose saia por completo e conservadora o suficiente para que os órgãos permaneçam com suas funções inalteradas.
Se estiver em dúvida, procure sempre uma segunda opinião.