A deterioração do estado mental da mulher com endometriose é uma das manifestações mais atreladas ao estigma da doença. Saber reconhecer os sintomas é somente mais um desafio do o médico e sua equipe interdisciplinar.
O câncer que não mata. Pode parecer um tanto quanto alarmante, mas pensando que a endometriose é uma doença que se espalha pela pelve e abdome, tira da mulher a qualidade de vida, chances de ser mãe, causando depressão e impactando em sua vida profissional, parece não ser uma definição tão absurda assim. Agora imaginem o impacto psicológico e mental de anos e anos vivendo e convivendo diariamente com a dor provocada por esta doença e os estigmas que ela carrega. É compreensível e esperado que muitas mulheres sofram com pensamentos negativos, desesperança e sintomas como ansiedade, depressão do humor, entre outros. A depressão está entre os maiores problemas indiretos relacionados a endometriose.
Cientificamente, a relação causa-efeito é difícil de ser comprovada, mas aqui outro círculo vicioso se repete. A dor constante e a dificuldade em atingir um sono profundo e reconfortante prejudicam o desempenho profissional e social da mulher. O “sono mal dormido” intensifica as dores pélvicas num vai e vem, onde é difícil identificar quem é causa e quem é consequência. Estes ingredientes ainda são responsáveis por piorar o humor, o qual, infelizmente, é responsável por afetar sono e depressão. Inúmeras, talvez milhares de mulheres entram nesta espiral de depressão, ansiedade, mudança de humor, insônia prejudicando diretamente sua vida profissional, social e amorosa. Tratar estes sintomas e doenças associadas é tão importante quanto tratar a causa, no caso a endometriose. Nem todas as mulheres precisarão de antidepressivos, indutores do sono ou medicações para ansiedade, mas é importante estar atento para todas estas manifestações.
Mais do que tratar a doença precisamos tratar o indivíduo mulher como um todo, numa visão holística, o que exige do especialista mais do que o conhecer a doença, reconhecer quando ela, a mulher, está precisando de ajuda. Aqui, profissionais como psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras e outros, através de práticas que aliviam o estresse, como meditação, acupuntura, podem atuar em sinergismo com o ginecologista para reduzir os efeitos deletérios da endometriose sobre a saúde mental da mulher.