Parto normal ou cesárea? Será que esta decisão me pertence ou já está determinada pelo fato de eu ter endometriose? Essa é uma das questões importantes a serem discutidas.
Apesar da experiência adquirida em anos de atendimento à pacientes com endometriose, impossível ficar insensível à angústia que estas mulheres demonstram quando o assunto é gravidez e filhos. Algumas até suportam bem as dores, mas o sentimento gerado pela incapacidade de gerar uma vida e constituir a tão sonhada família corrói a estrutura psicológica de muitas delas.
Como disseram os autores do e-book Conhecendo, “A endometriose é o espelho da mulher moderna que optou por atrasar seu futuro reprodutivo, seja pelos hábitos da sociedade, seja por realização profissional”. A cada ciclo, as células de endométrio podem chegar à pelve e aumentar ainda mais as lesões que são estimuladas pelos estrogênios liberados pelos ovários, neste vai e vem hormonal. Ainda hoje, acredita-se que o bloqueio do ciclo menstrual tende a reduzir as chances desse círculo vicioso se perpetuar. Mas e a idade? Sempre alerto para idade. A decisão não é minha, são delas.
Quando se olha as estatísticas os números preocupam. Estima-se que três a quatro em cada dez mulheres com endometriose apresentarão algum grau de infertilidade. E que 25% a 30% das mulheres com infertilidade têm algum grau de endometriose.
E como a endometriose causa infertilidade? São tantas teorias e incertezas, que na verdade só colaboram para a insegurança de algo que parece imponderável. Perdidas diante de tantas informações e detalhes a cerca das medidas a serem consideradas, as mulheres vagam pelas probabilidades na esperança de um dia serem mãe. Por mais forte e aguerrida que possam ser – e são – existe um inimigo invisível que habita alguma região entre o estômago e a espinha que sempre se faz presente.
O medo do insucesso e da possibilidade de não poder ser mãe é tão devastador quanto as dores excruciantes provocadas pela doença. E saber tratar o sofrimento da mente é tão fundamental quanto tratar a dor física. Por isso, não nos deixemos nos enganar pela postura de coragem e resiliência comum à estas mulheres. Sim, é preciso oferecer todo tipo de apoio e ferramenta que temos a disposição para buscar uma gravidez. Lidar com estas emoções é tarefa para profissionais preparados, como os psicoterapeutas, mas mesmo quando a decisão tomada não nos parece a melhor, sempre devemos estar ao lado delas para escutar seus anseios e amenizar suas angústias.