A cirurgia robótica, também chamada de cirurgia laparoscópica assistida por robótica, é um procedimento minimamente invasivo, em que o cirurgião manipula um robô. Saiba mais.
Conheça mais sobre a cirurgia robótica
Cirurgia minimamente invasiva é uma estratégia operatória que se vale de pequenas incisões para acesso ao ponto de interesse para o cirurgião.
Na cirurgia abdominal, a videolaparoscopia é a evolução da cirurgia aberta, de corte, e é a plataforma mais usada atualmente.
A cirurgia assistida por robô ou cirurgia robótica é uma modalidade de cirurgia minimamente invasiva e representa uma evolução tecnológica da videolaparoscopia.
Em uma a cirurgia aberta, o cirurgião manipula e visualiza os órgãos diretamente, na cirurgia videolaparoscopica são pinças e uma câmera de vídeo, movimentadas diretamente pelo cirurgião, permitem visualizar e operar através de pequenas incisões.
Na cirurgia robótica o cirurgião controla os movimentos de braços mecânicos de precisão que efetuam os movimentos necessários para a visualização e cirurgia propriamente dita.
E por que complicar as coisas interpondo instrumentos entre o cirurgião e a paciente pode trazer benefícios?
Características e benefícios da cirurgia robótica
A cirurgia minimamente invasiva é realizada desde os anos 80 e a literatura científica já comprovou benefícios para o paciente quando comparada com a cirurgia aberta. É menos dolorosa, tem menor perda de sangue e complicações de ferida operatória o que proporciona tempo de internação e afastamento mais curtos. Apesar dos custos da laparoscopia serem mais altos que os da cirurgia aberta, a redução das complicações e tempo de internação fazem com que o custo global do tratamento seja vantajoso.
A cirurgia de endometriose progrediu muito com o advento da cirurgia minimamente invasiva, que além das qualidades acima mencionadas permite melhor visualização da pelve e adequada ressecção dos focos de endometriose, a videolaparoscopia é o padrão ouro para o tratamento cirúrgico da endometriose.
Desde 2000 a plataforma robótica vem sendo utilizada e até 2021, apenas uma empresa fabricava o robô cirúrgico. A cirurgia assistida por robô segue os mesmos princípios da videolaparoscopia mas ganha o poder da computação que acrescenta possibilidades inexistentes ou muito complicadas de se obter na videolaparoscopia.
Também possível, mas pouco disponível na videolaparoscopia, a visão tridimensional ganhou popularidade com a cirurgia robótica, permitindo uma melhor orientação espacial do cirurgião durante a cirurgia.
Hoje, a cidade de São Paulo, dispõe de um maior número de mais plataformas robóticas do que plataformas videolaparoscópicas com visão tridimensional.
Para entender o que isso significa, podemos lembrar e comparar como é assistir um filme no cinema normal e no o cinema 3D, o enredo é o mesmo, mas a experiência é completamente diferente.
Outra característica muito útil na cirurgia robô assistida é a capacidade de movimento das pinças que permite grande amplitude de movimento, maior que na videolaparoscopia.
Comparando com o dia a dia, imagine sua vida com o punho imobilizado, experimente tentar pegar algum objeto num cantinho apertado sem dobrar o punho, essa é a videolaparoscopia.
Na cirurgia robótica a pinça tem punho que pode girar facilitando o acesso aos “cantinhos” do abdome e da pelve.
Na cirurgia videolaparoscópica os movimentos das pinças são contrários aos nossos movimentos naturais, por isso um longo aprendizado é necessário para que a cirurgia ocorra com adequada fluidez e segurança.
Se quiser experimentar, próxima vez que você comprar uma bebida em uma lanchonete de “fast-food” movimente o canudo e veja a diferença com e sem a tampinha plástica no copo; na videolaparoscopia os movimentos são iguais aos do copo com tampinha, invertidos.
A dificuldade imposta por esse movimento invertido dificulta impedir a maior disseminação da cirurgia videolaparoscópica, reduzindo a oferta desta estratégia às pacientes.
O poder computacional presente na cirurgia robô assistida traduz os complexos movimentos da cirurgia minimamente invasiva em movimentos naturais e intuitivos para o cirurgião, facilitando assim a adoção da cirurgia minimamente invasiva pelos cirurgiões.
Outra característica da plataforma robótica é que o cirurgião controla sozinho câmera e até três pinças, reduzindo desta forma a dependência dos assistentes durante a realização da cirurgia.
Você já pensou em ficar de pé, parado no mesmo lugar por duas a quatro horas?
Não, não é prova de resistência de “reality show” é só o tempo médio e a posição que o cirurgião e seus auxiliares ficam durante uma cirurgia de endometriose.
Sim, estamos treinados e habituados, mas trabalhar de uma forma mais confortável e ergonômica é benéfico para todos.
Na cirurgia robótica o cirurgião a partir de um console ergonômico os controles dos braços robóticos, os assistentes também podem ficar sentados durante a cirurgia.
Caso não tenha ficado claro até agora, o robô não faz nada sozinho! Nenhum movimento acontece de forma autônoma. Os braços e pinças robóticas movem-se apenas quando o cirurgião os comanda através dos manetes no console de controle.
Reforçando, quem dirige os braços robóticos e consequentemente realiza a cirurgia é o cirurgião.
Um ponto negativo da cirurgia robótica é o elevadíssimo custo de aquisição e operação do sistema.
Você deve estar pensando: por que o padrão ouro é a laparoscopia, se a cirurgia robótica tem tantas evoluções? Vamos lá!
Como citado acima, temos 40 anos de experiência com a videolaparoscopia e 21 com a cirurgia robótica que ganhou popularidade apenas nos últimos dez anos.
Do ponto de vista científico um novo tratamento, técnica ou produto para uso em saúde precisa mostrar a que veio.
A “novidade” precisa provar que não é inferior àquilo que se propõe a melhorar ou substituir, e ser vantajoso do ponto de vista econômico ou trazer vantagens significativas para o paciente que eventualmente justifiquem o maior custo.
Foi este o caminho da cirurgia videolaparoscópica, inicialmente com custo muito elevado em relação à cirurgia aberta, mas seus benefícios justificam o gasto adicional e com a popularização do método o custo dos insumos laparoscópicos caiu significativamente.
Já está devidamente provado pela ciência que a plataforma robótica não é inferior à cirurgia videolaparoscópica.
Apesar de uma crescente adoção dos sistemas de cirurgia robótica no mundo, os custos relacionados à cirurgia robótica ainda são significativamente maiores que os da videolaparoscopia ao longo desses 20 anos.
No tocante a benefícios para o paciente, os estudos científicos ainda não permitem dizer que a cirurgia robótica da endometriose é superior à videolaparoscopia no que diz respeito a complicações, dor pós operatória ou duração do tempo de internação e retorno às atividades habituais.
Resumindo, a cirurgia com a plataforma robótica é tão segura quanto a videolaparoscopia, produz os mesmos resultados clínicos, no entanto com um custo ainda significativamente maior e que impede maior oferta desta tecnologia bem como para sua adoção como padrão ouro.
Uma vez que o uso da plataforma robótica acarreta custos adicionais para a paciente, devemos indicar seu uso de forma responsável, quando suas qualidades poderão fazer a diferença para a paciente.
Em minha opinião para uma primeira abordagem cirúrgica de endometriose há pouca diferença entre a via vídeo laparoscópica ou robótica, no que tange a resultado final para a paciente.
Já em casos de uma segunda ou terceira cirurgia por endometriose ou quando o diafragma está comprometido as qualidades da plataforma robótica podem contribuir para uma cirurgia de sucesso.
A cirurgia robótica não compensa inexperiência, inabilidade ou desconhecimento técnico, não ensina ninguém a operar.
Não podemos perder de vista que a tecnologia robótica não é mais importante que o profissional que controla o robô.
Como médicos temos um compromisso de confiança e transparência com as pacientes, devendo usar nosso conhecimento e técnica para o bem delas.
Encerro com uma frase do Dr. Miguel Srougi em 2015 num artigo publicado na Folha de São Paulo, sobre cirurgia robótica:
“… um médico só exercerá com grandeza o seu papel de guardião do corpo e da alma se, tanto na saída quanto na chegada, levar em conta não apenas a doença, mas também os sentimentos e aflições que envolvem seus pacientes”.
Escrito por Dr Victor Sérgio Stockler Bruscagin